Cidade Opnião

Vamos falar sobre o autismo?

Na semana passada comecei a escrever esta coluna sobre o autismo e hoje quero compartilhar com vocês um pouco da nossa história.
Quando a Luara nasceu, fazíamos acompanhamento com o pediatra, mas também acompanhávamos um aplicativo sobre a evolução do bebê (eles mostram os marcos de evolução da criança, desde o primeiro dia de vida).
Aos seis meses, o aplicativo dizia que o bebê já poderia olhar quando chamado pelo nome, mas que caso não olhasse ainda seria “normal”.
Aos sete meses, a mesma coisa. Aos oito meses, o aplicativo dizia que o bebê já deveria olhar quando chamado pelo nome, caso contrário poderia ser autismo, o que foi um grande alerta.
Desde o seis meses, falei sobre isso com o pediatra, o qual dizia que não havia nada de “errado” com a Luara e recomendou que a colocasse na escola.
A escola foi a melhor opção para a Luara, de fato ela evoluiu muito, mas comecei a perceber que ela realmente não olhava quando chamada e também que ela preferia brincar com brinquedos a brincar com crianças.
Dos oito meses até o primeiro ano, era cada vez mais nítido que a Luara preferia ficar “na dela”, como se não tivesse diferença ter outras crianças ao seu redor.
Além disso, toda criança típica adora brincar de bonecas, mas a Luara não: sua diversão era bater os brinquedinhos, jogá-los ao chão e depois pegar de volta.
Eu a olhava, sabia que era inteligente (até demais, às vezes), mas sabia que algo era diferente, porém o pediatra insistia que eu era “neurótica”, que o desenvolvimento da minha filha era “normal”.
Dos 8 aos 12 meses, fui lendo mais sobre o autismo, um assunto até então desconhecido totalmente por mim.
Quando a Luara completou um ano, o pediatra deu uma guia para avaliação com neuropediatra, mas foi bem claro que estava fazendo aquilo diante da minha insistência, já que nenhum neuro daria diagnóstico de autismo antes dos três anos.
É aqui que quero deixar meu alerta pra vocês. Infelizmente, há muitas pessoas despreparadas quando o assunto é autismo e aquilo não é verdade: uma criança começa a dar os primeiros sinais do autismo desde muito bebezinha, e o diagnóstico precoce é essencial para o desenvolvimento da criança.
O pediatra acabava me “confortando”, pois qualquer mãe quer ouvir que seu filho está se desenvolvendo de forma “normal”. Junto com isso, sempre tem os amigos e a família, que por amarem demais, também sempre têm uma palavra de conforto: “ela é normal”, “isso é coisa da sua cabeça”.
Por isso que compartilho essa história com vocês: quando uma mãe tem um alerta sobre seu filho, acredite nesta intuição. Investigue. Procure bons profissionais. Não se contente com a primeira opinião médica. Isso pode ser fundamental na vida de seu filho.
Com 1 ano e 1 mês, a Luara teve a primeira consulta com neuropediatra e não pensem vocês que todos estão preparados: em 10 minutos de consulta, a médica disse que minha filha era autista, que já havia passado um ano e um mês sem que eu fizesse nada, que era muito tempo perdido e que eu tinha que começar as intervenções pra ontem. Insinuou ainda que a Luara não falaria e não andaria (por causa da hipotonia).
Meu mundo caiu. Por mais que eu tivesse lido sobre o assunto, não entendia quase nada. Chorei um dia inteiro sem parar, mas mesmo assim não me contentei com aquilo.
Em uma semana, fomos a outro neuro, que foi um anjo em nossas vidas. Em uma hora e meia de consulta, explicou que a Luara poderia ter autismo sim, mas tudo com muita calma e tranquilidade.
Mesmo ainda sem diagnóstico fechado, explicou quais intervenções a Luara precisaria (fono e terapeuta ocupacional), além de pedir exames para descartar outras patologias.
E assim, há onze meses, a Luara vem fazendo as terapias, vai à escolinha e sua interação social vem melhorando a cada dia.
O autismo não é doença e não é um bicho de sete cabeças, mas exige muito esforço e muitas terapias e isso sim, aqui em nossa cidade, acaba se tornando um problema (falarei desse assunto na próxima edição).
Hoje é aniversário da Luara! Está fazendo dois aninhos. E ao contrário do que foi dito, Luara já anda (desde 1 ano e 4 meses) e já se comunica bem: ainda que a fala seja ausente, balbucia algumas palavras e, de forma alternativa, consegue expressar o que quer. E mais que isso: aprendeu a dar função aos brinquedos, encaixa as pecinhas, adora livros e adora água!
Os autistas são anjos em nossas vidas. Não tenha vergonha, não tenho medo de investigar. Procure ajuda médica, fale com outras mães e pais, fale comigo, será um prazer poder ajudar. Não se esqueça que as intervenções precoces são essenciais para o desenvolvimento desses anjos.

Colunista:

Mirela Eliara Rueda