A infância é um período marcado por descobertas, desenvolvimento emocional e muita expressão simbólica. Em meio a tudo isso, identificar possíveis dificuldades cognitivas ou emocionais pode ser desafiador — principalmente quando a criança ainda está aprendendo a nomear o que sente. É aí que o teste HTP (House–Tree–Person) ganha relevância como ferramenta de avaliação neuropsicológica.
O HTP é um teste projetivo gráfico, ou seja, um instrumento que utiliza desenhos como meio de investigação do mundo interno da criança. Ele solicita que o indivíduo desenhe uma casa, uma árvore e uma pessoa — símbolos que, juntos, fornecem pistas sobre autoimagem, afetividade, vínculos, estrutura emocional e até funcionamento cognitivo.
O valor do HTP está em sua capacidade de acessar conteúdos subjetivos de maneira indireta. Através da forma como a criança organiza os elementos do desenho, escolhe o tamanho, os detalhes, a pressão do traço ou mesmo o espaço em branco, o avaliador pode identificar indícios de sofrimento psíquico, dificuldades emocionais e alterações do neurodesenvolvimento.
Na avaliação neuropsicológica, o HTP é utilizado de forma complementar aos testes mais objetivos e padronizados. Ele não fornece diagnósticos por si só, mas amplia o olhar clínico do profissional, especialmente quando há suspeitas de Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), transtornos de linguagem, dificuldades emocionais ou cognitivas.
É um recurso valioso, sobretudo em casos em que a criança tem dificuldade de verbalizar o que sente ou vive. Através do desenho, ela projeta emoções, experiências e conflitos de maneira simbólica, oferecendo um material riquíssimo para análise clínica e compreensão do seu funcionamento interno.
Por exemplo, uma criança com traços autísticos pode apresentar desenhos rígidos, com excesso de detalhes repetitivos ou com ausência de traços humanos na figura da pessoa. Já uma criança com TDAH pode apresentar traços impulsivos, desenhos inacabados ou desorganização espacial — tudo isso dentro de uma análise cuidadosa e contextualizada.
Outro ponto importante é que o HTP pode ser adaptado conforme a idade e o nível de desenvolvimento da criança. Sua aplicação é rápida, acessível e não invasiva, tornando o processo de avaliação mais acolhedor, especialmente em crianças que demonstram resistência ou ansiedade diante de testes mais estruturados.
Apesar de sua simplicidade aparente, o HTP exige interpretação qualificada, pois cada elemento desenhado tem um significado simbólico que deve ser lido à luz da história da criança, do motivo da avaliação e de outros dados coletados. Por isso, é fundamental que esse instrumento seja aplicado e analisado por psicólogos capacitados.
O HTP não substitui os testes neuropsicológicos tradicionais, mas complementa a avaliação de forma sensível e subjetiva, favorecendo uma compreensão mais ampla do sujeito. Ele contribui para hipóteses diagnósticas, planejamento de intervenções e encaminhamentos terapêuticos mais assertivos.
Em resumo, o teste HTP é uma ferramenta essencial no rastreamento precoce de alterações emocionais e cognitivas em crianças, especialmente dentro do contexto da avaliação neuropsicológica. Através do desenho, ele revela aspectos profundos da psique infantil — muitas vezes invisíveis aos olhos, mas claramente expressos no papel.
Rubens Soares é neuropsicólogo, capacitado para a aplicação e análise do teste HTP (House-Tree-Person), integrando essa técnica projetiva a um processo de avaliação amplo, criterioso e embasado. Sua atuação segue os princípios éticos da psicologia, garantindo segurança e seriedade na devolutiva ao paciente e à família.
Por: Rubens Soares Psicologia e Neuropsicologia
Habilitado em avaliações Neuro psicológicas




