Você já acordou cansado mesmo depois de uma noite inteira de sono? Já sentiu o estresse tomar conta do seu dia desde as primeiras horas da manhã, com o limite de paciência cada vez mais baixo e a sensação constante de que está falhando em dar conta de tudo? Essa é a realidade silenciosa e dolorosa vivida por milhares de pessoas, especialmente por muitas mulheres. E ela tem nome: burnout.
O burnout é uma exaustão emocional profunda que, quando se instala, não fica restrita à mente. Ele afeta o corpo, gerando sintomas físicos como insônia, dor de cabeça, lapsos de memória, irritabilidade, alterações no apetite e até dores musculares. Mas, diferente do que se pensa, ele não surge de um dia para o outro. Ele é fruto de uma sobrecarga que se acumula silenciosamente, até que o corpo e a mente não aguentam mais.
Ao longo da minha atuação como psicólogo clínico, percebo que essa sobrecarga atinge com força desproporcional as mulheres. São elas que, muitas vezes, assumem múltiplos papéis: profissionais competentes, mães presentes, esposas atentas, cuidadoras dos pais, gestoras do lar, e, em muitos casos, ainda tentam manter a aparência de que está tudo sob controle.
Nesse processo, o cuidado pessoal é o primeiro a ser negligenciado. O autocuidado emocional – que inclui descanso, lazer, tempo de qualidade consigo mesma, alimentação adequada e, principalmente, escuta das próprias emoções – vai sendo deixado de lado como se fosse um luxo, e não uma necessidade. Mas o corpo fala. E quando falamos de burnout, ele grita.
O que acontece é uma desregulação emocional que, não raramente, é confundida com fraqueza. As pessoas começam a se cobrar ainda mais por não estarem rendendo, mesmo estando exaustas. Passam a se culpar por não darem conta de tudo, como se isso fosse uma exigência natural da vida adulta. E é aí que mora o perigo: naturalizamos a exaustão como se ela fosse um sinal de força.
Dar conta de tudo é uma expectativa irreal. E pior: é uma armadilha. Quando você se propõe a realizar todas as tarefas de todos os papéis que desempenha, sem pausa, sem escuta interna, sem limites, está alimentando uma crença tóxica de que cuidar de si é menos importante que cuidar dos outros. Isso, além de injusto, é insustentável.
É fundamental reconhecer os sinais. Irritabilidade frequente, dificuldade de concentração, apatia, crises de choro, sensação constante de estar no limite, dores recorrentes e distúrbios no sono são indícios de que algo precisa mudar. E a mudança começa com o reconhecimento da necessidade de ajuda. Pedir ajuda não é fraqueza, é um ato de inteligência emocional e de sobrevivência.
A terapia cognitivo-comportamental é uma importante aliada nesse processo. Ela ajuda a identificar os padrões de pensamento e comportamento que mantêm a sobrecarga, ensina estratégias de organização emocional e prática, e oferece um espaço seguro de acolhimento, reflexão e reconstrução de hábitos mais saudáveis.
Lembre-se: você não precisa dar conta de tudo. Na verdade, dar conta de tudo é um conceito que precisa ser revisto. É preciso dar conta daquilo que faz sentido para você, daquilo que está dentro da sua capacidade emocional, física e mental. O resto, a vida ensina a delegar, a adiar, ou até mesmo a abandonar.
Não espere que o seu corpo precise gritar por descanso. Escute o seu cansaço, respeite seus limites e cuide de si com o mesmo zelo com que cuida dos outros. Afinal, você também é sua responsabilidade. Pense nisso.
Por: Rubens Soares (Psicólogo).