Nesta semana, para continuar os problemas pessoais com a pandemia, meu avô virou suspeito de Covid. Mais de 80 anos, obesidade, problemas de saúde que gastariam todas as minhas linhas para explicar.
Levei ele ao hospital. Não conseguia respirar, falar ou comer direito. Fomos bem atendidos e minha mãe chegou lá em seguida. Ela passou a primeira noite com ele no hospital.
Saturação dele estava boa e os médicos descobriram um abcesso na úvula, o que não descartava o Covid. Na segunda noite, eu fui ficar com ele. Eu devo dizer que não gosto de interiores de hospitais. Acho assustadores aqueles corredores e aqueles quartos semi-iluminados.
Cheguei lá as 20h e tive que me paramentar. Não vou mentir, a sensação de colocar aquele avental, cobrir os pés, prender cabelo e ficar de luvas o tempo todo é terrível. Não serviria para a profissão da saúde nem mesmo se eu quisesse. Sentei ao lado dele, naquela poltrona reclinável confortável e fiquei lá até as 5 horas da manhã do dia seguinte.
Sem dormir.
Vi meu avô dormir e cada vez que a respiração dele mudava eu já pensava em apertar aquele botão e chamar a enfermagem. 9 horas de pura tensão muscular imaginando que poderia acontecer algo com meu vô enquanto eu estava ali.
A sensação de estar naquele lugar deitado, vendo as enfermeiras entrarem e saírem do seu quarto para medir saturação, aplicar remédios, soros e afins é muito angustiante. E isso que eu passei apenas uma noite lá. Seria uma experiência ótima para quem está fazendo festas ter a mesma experiência. Ver um ente querido deitado naquela maca esperando o atendimento. Pra piorar, soubemos essa semana da cepa Índia, que parece ser mais perigosa. Acho que só fiquei tenso como essas últimas semanas na época do meu Trabalho de Conclusão de Curso na faculdade, quando passei a dormir 2 horas por dia para conseguir terminar. Tempos diferentes onde a vida não estava LITERALMENTE em jogo.
