Política

O que está por trás do aumento vertiginoso do preço da carne?

Quem já foi até o mercado ou açougue para fazer compras notou: a carne está mais cara. E ao que tudo indica, continuará a crescer por mais 4 meses até estabilizar, como apostam analistas. O preço da carne bovina subiu, desde setembro, cerca de 50%. É o patamar mais alto desde 1991, quando o preço da arroba bateu R$200 (o valor chegou a R$230 na última semana). Mas o que está acontecendo para que o preço da carne suba tanto?

O principal motivo é a China.
A extensa produção de porcos no populoso país vermelho sofreu um grande baque com a peste suína africana. Com a produção condenada, a solução foi migrar para a carne de boi. Aproveitando a desvalorização da moeda brasileira, a China alimentou seu mercado alimentício interno aumentando em 62% a compra de carne brasileira (para constar, Brasil, EUA e Austrália são os maiores produtores de carne bovina do mundo).
A razão para o aumento envolve, além do fator China, um momento de oferta restrita de bois no Brasil, um tradicional aumento da procura doméstica por carnes no fim do ano e o dólar cotado acima dos R$4, que aumenta ainda mais o ganho dos exportadores na hora de converter o dinheiro das vendas para real. Ou seja, como a China tem uma moeda mais valiosa que a brasileira vai comprar o produto, pagando um valor que o mercado interno não tem condição de competir.
E quando isso vai se resolver?
É possível que o valor ainda suba nos primeiros meses de 2020 até se estabilizar. De acordo com o Ministro da Agricultura da China, a expectativa é recuperar 80% da produção suína até o final de 2020. Segundo ele, a peste dizimou 40% dos porcos do país. Afirmou também que houve pouco progresso no desenvolvimento de uma vacina para combate do vírus. Para especialistas, aumentar a produção de animais de abate não é rápido como ligar ou desligar máquinas em uma indústria: há o tempo de abate de cada animal.
André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor e analista de inflação da Fundação Getulio Vargas (FGV), prevê que a carne permaneça em patamares mais altos até pelo menos o primeiro trimestre do ano que vem, e vá perdendo fôlego ao longo do ano. “Acredito que não vai terminar 2020 como a grande vilã da inflação”.