Em entrevista à jornalista Leda Nagle realizada no dia 28 de outubro e publicada a 31 no Youtube, o deputado federal, líder do PSL na Câmara e filho do presidente Jair Messias Bolsonaro, ameaçou: “Se a esquerda radicalizar a esse ponto, a gente vai precisar ter uma resposta. E uma resposta pode ser via um novo AI-5”.
A simples menção à reedição do Ato Inconstitucional nº 5 foi suficiente para provocar fortes reações contrárias dos líderes do Congresso, dos governadores, dos ministros do supremo e de entidades jurídicas.
Por ter nascido e crescido na casa de um militar e por ser um peão do meio, certamente, na intimidade do lar deve ter ouvido constante apologia às excelências da ditadura militar que vigorou entre nós de 1964 a 1985.
O Ato Inconstitucional nº 5, mais conhecido como AI-5, foi baixado em 1968 no período mais duro da ditadura militar e resultou no fechamento do Congresso Nacional e deu poderes ao presidente da república para cassar mandatos e suspender direitos políticos.
A lembrança daqueles dias de chumbo e dos excessos antidemocráticos cometidos naquele período acenderam os ânimos dos atuais defensores do sistema democrático que vigora por aqui.
Por desestimular e não permitir que a ideia da ressurreição de um AI-5 caia na simpatia popular e se alastre na sociedade, os presidentes da Câmara, do Senado e os partidos de oposição se apressaram em propor processo de cassação do mandato do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Uso da velha tática da intimidação.
Papai Bolsonaro, diante da repercussão negativa e o repúdio da classe política às insinuações de Eduardo, desautorizou o filho: “Não apoio. Quem quer que seja que fale em AI-5 está sonhando, está sonhando. Não quero nem ver notícia nesse sentido aí. Cobrem vocês dele, ele é independente”.
Desautorizado pelo pai, criticado pelos democratas de plantão e ameaçado de processo de cassação, Eduardo caiu em si. Reconsiderou a situação, amenizou as ameaças ao regime constitucional, pediu desculpas pelo mau jeito das declarações e concluiu que houve uma “interpretação deturpada” de sua fala e que “não existe qualquer possibilidade do retorno do AI-5”.
Num regime democrático soa estranha a proposta ameaçadora de Eduardo Bolsonaro sobre o retorno do AI-5. Porém, é preciso interpretar com cautela as manifestações e as críticas dos políticos às declarações do filho do presidente. Essa turma tem medo de um AI-5, não pelo povo nem pelo fim das instituições democráticas, mas por eles. Perderiam o poder, os cargos, as mordomias, a remuneração, o foro privilegiado, etc etc e muitos seriam sumariamente presos por roubo.
O custo do nosso Congresso (513 deputados e 81 senadores) é astronômico e é uma verdadeira caixa-preta. Veja o custo mensal de cada um dos nossos representantes lá em Brasília:
- R$ 33.763,00 – Salário mensal
- R$ 4.252,00 – Auxílio moradia mensal
- R$ 92.000,00 – Mensais para contratar assessores
- R$ 30.416,80 a 45.240,67 – Mensais para despesas pessoais
- R$ 67.526,00 – Mensais de ajuda de custo para alimentação aluguel de carro etc.
Aproximadamente R$ 227.957,80 a R$ 242.781,67 nos custa por mês cada um dos 594 congressistas. Multiplique isso por 594 e esbugalhe os olhos! Multiplique por 12 e terá um número inacreditável. E que vantagem o povo leva? E o que pensam os mais de 13 milhões de brasileiros que sobrevivem com R$ 8,00 por dia? Se é que a fome e as dificuldades lhes permitem pensar e opinar!
Com tanta grana à disposição ao alcance da mão e a possibilidade de legislar em causa própria para aumentar ainda mais os próprios rendimentos, quem desses valentes vai apoiar um AI-5 para consertar o Brasil e colocar os homens públicos no caminho da virtude e do dever? Só de ouvir falar AI-5 ouriçam o pelo e tratam de defender o sistema que lhes garante o paraíso terrestre: a democracia à brasileira!
Na manifestações condenatórias às ideias de Eduardo Bolsonaro, os críticos foram coerentes. Ao repudiar a ditadura e defender a democracia, na realidade, defenderam os interesses pessoais porque a democracia lhes acoberta legalmente todo tipo de picaretagem e lhes garante a imunidade e a impunidade. A ditadura lhes acabaria com a farra e fartura. Daí o medo dela.
Tanto na monarquia, como na ditadura civil ou militar, como na democracia, para o povo pouco ou nada muda pois para servir à pátria, manter a mamãe democracia e sustentar os pais da pátria, ao contribuinte sobra a conta salgada dos gastos extravagantes do governo e dos governantes. O Brasil não precisa de AI-5, necessita de uma democracia mais barata.
O resto acontece! A extinção e a união de municípios deficitários, cujo projeto está no Congresso, onde chegou pelas mãos do capitão Jair Messias Bolsonaro.
É o indício de que alguma coisa está para mudar no país. É torcer para que a ideia prospere e para que o Congresso não torpedeie a proposta. É um AI-5 disfarçado, e “light” pois segue o rito constitucional porque vai acabar com um grande número de cargos de prefeito, de vice-prefeito e de vereadores. A economia agradece! Vamos aguardar!
Tô certo ou tô errado?
João de Barros Crepaldi, ex-vereador, por 3 mandatos, ex-secretário da educação, ex-professor, atualmente exerce a atividade menos penosa e menos perigosa: conserta motocicletas e já está atendendo normalmente após o recesso forçado.
Colunista
João de Barros Crepaldi
