Enquanto o pau come entre bolsonaristas e bivaristas, o nosso Messias viajou para o outro lado do mundo, mais precisamente ao Japão. Sob o pretexto de prestigiar a cerimônia de troca dos imperadores japoneses, nosso presidente buscou ficar bem longe da briga pública, vergonhosa e intestina que os políticos do PSL tramam entre si em busca do controle do partido. A troca de ofensas de baixo calão entre as partes não se deve apenas à sede de controle dos destinos do partido do presidente, é motivada essencialmente pela vontade de controlar os fundos milionários que estarão disponíveis para a próxima campanha eleitoral. O dinheiro desperta paixões e pode levar à loucura!
O presidente, ao indicar o filho Eduardo Bolsonaro (SP) para o cargo de líder da bancada na Câmara, despertou a ira e o destempero do deputado Delegado Waldir (GO) ocupante da função. O parlamentar pôs a boca no trombone e chamou o presidente de traidor, de vagabundo e de outros qualificativos nada elogiosos. No frigir dos ovos, a deputada Joice Hasselmann (SP), líder do governo no Congresso, caiu de pau no filhote Eduardo Bolsonaro (SP) ao classificá-lo de filho nem-nem: nem líder, nem ético, nem embaixador nos EUA. Acabou destituída da liderança do governo no Congresso pelo papai Bolsonaro.
Lá no Japão, Jair Bolsonaro recebeu a notícia de que a briga partidária do PSL foi parar nas barras dos tribunais, que o filho Eduardo virou líder do partido e desistiu de ser embaixador nos Estados Unidos.
A guerra acabou?
Quer nos parecer que não. Na qualidade de chefe do Executivo, Bolsonaro não deveria meter o bico nas questões do Legislativo, especialmente em se tratando da defesa de interesses familiares. O presidente precisa usar mais a bic do que a boca. Só assim vai conseguir produzir ações administrativas menos polêmicas e mais produtivas. Contudo, não será fácil mudar a personalidade de Sua Excelência. Não se ensinar cachorro velho. Burro velho não pega marcha, diziam os antigos.
Mal chegou a Tóquio, o capitão foi ao templo xintoísta Meiji, onde participou de um ritual de purificação. Nesse templo existem bicas de água, onde se costuma lavar as mãos antes de se entrar na área religiosa. Foi o que Bolsonaro fez. Para se livrar da crise interna do seu partido, nosso Messias deveria tomar um banho de corpo inteiro e tomar um balde daquela água à guisa de purgante. Talvez assim se livre da urucubaca que o acompanha e que contamina o povo e o solo brasileiros: queimadas na Amazônia, óleo nas praias nordestinas e desavenças com os companheiros de partido. É muito raio num pau só! Assim não há tatu que aguente! E a conta sobre para o povo!
Não é falta de fé nem apoio. Nosso presidente é assíduo frequentador de cultos e vive cercado, apoiado e aconselhado por líderes religiosos e pelas bancadas temáticas da bala, evangélica e ruralista.
Diante dessa briga entre bolsonaristas e bivaristas (apoiadores de Luciano Bivar (PE), presidente do PSL), o povo se pergunta para que servem os partidos políticos. Tais agremiações representam quem e defendem os ideais de quem? A prática democrática vigente no Brasil demonstra que os partidos políticos são típicos balcões de negócios que buscam o dinheiro dos fundos partidários milionários para financiar as campanhas eleitorais. Salvo engano, há 32 partidos em atividade e mais 75 pedidos para registro de novas agremiações partidárias na fila de espera do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Pelo visto, o oportunismo, o desejo de abocanhar a grana milionária do fundo partidário e a possibilidade de usá-la em benefício próprio é o que move os políticos dispostos a representar os interesses da sociedade. Político é uma criatura que pensa uma coisa, diz outra e faz aquilo que lhe favorece. A longa carreira política de Jair Bolsonaro ainda não foi suficiente para conscientizá-lo dessa realidade. Daí decorrem as dificuldades de convivência com a classe política, com os assessores, com os apoiadores e com a mídia. Isso contribui para a decepção do eleitorado e o fracasso de possíveis boas medidas administrativas que devem tramitar pelo Congresso. A continuar nesse ritmo, Bolsonaro ficará refém dos partidos políticos e o antigo e combatido toma lá dá cá voltará a imperar como única maneira de se governar a pátria amada Brasil. E o povo repartido, ora aplaude, ora vaia o espetáculo horroroso e deprimente que os três poderes da república proporcionam. E o povo, como sempre, remunera regiamente os maus atores que estão no palco.
Tô certo ou tô errado?
João de Barros Crepaldi, ex-vereador, por 3 mandatos, ex-secretário da educação, ex-professor, atualmente exerce a atividade menos penosa e menos perigosa: conserta motocicletas e já está atendendo normalmente após o recesso forçado.
Colunista:
João de Barros Crepaldi.