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Arte e cultura no ensino básico

Desenho, teatro, dança, música, pintura e outras formas de arte são consideradas pela maioria como atividades recreativas e de baixa importância. No entanto, a arte e a cultura na educação infantil são disciplinas insubstituíveis, pois contribuem para o desenvolvimento integral da criança. Leitura e atuação crítica no mundo, autoconhecimento, exteriorização das emoções, criatividade, sensibilidade, empatia, autonomia e reconhecimento das diferenças são algumas habilidades — denominadas como socioemocionais — que são fortemente estimuladas por essas práticas. Sabemos que o conhecimento racional ainda é sobrevalorizado — em detrimento de outros tipos de saber — pelo atual currículo escolar. A questão que surge é que, na experiência humana, as esferas física, mental e afetiva não atuam separadamente. Isso significa que não há como alcançar um aprendizado efetivo se não for dada a devida atenção às diferentes formas de a criança vivenciar, perceber e conhecer o mundo. Para que as coisas façam sentido, os pequenos precisam estabelecer conexões externas e internas, e é exatamente nesse ponto que o ensino das artes se mostra relevante
Conforme foi dito, o contato com as manifestações artísticas e culturais nesse primeiro estágio da formação escolar contribui significativamente para o desenvolvimento infantil (compreendido em sua amplitude).
Os benefícios oferecidos às crianças são muitos, relacionei abaixo alguns.
Estímulo ao autoconhecimento
O ensino artístico na infância incentiva o conhecimento de si e o reconhecimento do outro como um ser igualmente dotado de características que o tornam único. Por meio de suas criações, a criança consegue acessar seus sentimentos e expressá-los. Ao apreciar as produções de seus colegas, ela consegue identificar o que as aproxima e o que as distingue.
Ser capaz de reconhecer suas próprias limitações e potencialidades, assim como as do outro, é uma maneira de fortalecer a autoconfiança e a empatia. Além disso, crianças que aprendem desde cedo a expressar suas emoções tendem a construir relacionamentos interpessoais mais saudáveis e equilibrados.
Ampliação de horizontes
Perceber a variedade de cores, formatos, tamanhos, posições e símbolos que compõem o mundo amplia os nossos horizontes, ou seja, alarga o nosso universo de possibilidades de conhecimento e de interpretação do mundo que nos cerca.
Quando dizemos que as artes estimulam a criatividade — ou que despertam a imaginação — é porque qualquer uma de suas expressões oferece elementos que modificam qualitativamente o nosso olhar.
Saber que existem infinitas formas de sentir e representar a realidade vivida desenvolve nas crianças a capacidade de questionar as coisas, de enxergar e pensar para além do óbvio e, consequentemente, de elaborar soluções criativas para os desafios que surgem ao longo da vida escolar e extraescolar
Experiência da fantasia
Experimentar a realidade por meio da fantasia: parece contraditório, mas não é. A ficção auxilia a criança a perceber que existe uma conexão entre símbolo e significado, isto é, entre o real e o representado. Essa assimilação ocorre de forma muito mais efetiva quando é vivenciada de modo prazeroso e intenso, por meio do faz-de-conta e da imaginação.
No papel de personagens em histórias inventadas — e por que não, encenadas? — os pequenos conseguem identificar situações do cotidiano e se colocar nelas. Esse processo auxilia no fortalecimento dos vínculos afetivos e na inserção gradativa da criança na sociedade. Em outras palavras, ela começa a se entender como sujeito no mundo, como ator social dotado de singularidades, responsabilidades e direitos.
Desenvolvimento de habilidades interculturais
Nada melhor para combater o preconceito e a discriminação que a informação e o conhecimento! A criança que tem contato, desde sua primeira etapa formativa, com as mais distintas formas culturais e suas expressões, compreende que todos somos diferentes e merecemos ter nossas escolhas respeitadas.
Mais do que isso, é necessário apreender que a diversidade cultural, ou seja, a pluralidade de pensamentos, ideias, expectativas e manifestações, não é negativa. Ao contrário, ela promove a consolidação e o enriquecimento da experiência humana.

Colunista:

Francisco Flávio Simões Neto