A equipe de enfermagem fala sobre a luta diária na pandemia
A equipe de enfermagem do Hospital São Sebastião, formado de experientes enfermeiros tem lutado desde o início da pandemia contra o novo coronavírus. A mudança de rotina, a pressão, a exposição e as dificuldades tem pesado na equipe todos os dias, que precisa conviver com idas e vindas sempre de cabeça erguida e pronto para ajudar o próximo paciente.
Mas mesmo depois de um ano, para eles, a situação ainda não é normal. Apesar de trabalharem entre a vida e morte, ver pacientes vindo a óbito é algo que marca todos. “É muito triste para nós. Cuidamos do paciente da melhor forma e, ao mesmo tempo, não podemos nos deixar abalar”. Os enfermeiros têm passado por situações complexas por estar sempre tão expostos à doença. O medo é constante. Um deles, que já foi infectado duas vezes, conta que a maior preocupação é contrair a doença e passar para os familiares. “Minha filha pegou por causa de mim. Se acontecesse algo com ela, eu nunca me perdoaria”.
Ainda com o convívio diário com situações assim, o medo é constante. A equipe coloca a própria vida e a vida de seus familiares em risco todos os dias trabalhando com casos de Covid. A parte psicológica, obviamente, é afetada pela situação longa e rígida. “Nós não saímos mais. Evitamos até mesmo comércio pelo medo de possibilidade de infectar alguém. Algumas vezes, até notamos que somos tratados com diferença por isso. Nossa vida perdeu o lazer e vivemos num ritmo frenético esperando o próximo plantão”.
“A gente fica tão mal que passa a questionar até mesmo a própria profissão. Nos esforçamos tanto, mas alguns pacientes nós acabamos perdendo e não poderemos naturalizar isso. Então tentamos não ficar pensando muito no nosso trabalho e na nossa situação, senão não suportamos”. Um dos pacientes pediu para ver uma foto do filho pela última vez antes de ser entubado. “Nós sentimos por todos, mas casos como esse nos marcam para sempre”.
Com tudo isso, coisas que eram menos comuns na vida dos enfermeiros passou a fazer parte do trabalho e marcou eles profundamente. O tamponamento de corpos, o falecimento de pacientes dos quais eles gastaram dias cuidando e até mesmo de pacientes jovens e sem comorbidades falecendo deixou todos os profissionais abalados. “Ver o médico avisando que o paciente iria ser intubado e ele pedir para se despedir dos pais, foi algo que cortou para sempre meu coração”. “Nós vemos o medo dos pacientes, e precisamos usar tantos equipamentos que as vezes nem nos reconhecemos”. Mesmo assim, a equipe também lembra com carinho dos casos recuperados e que foram até eles agradecer pela ajuda.
“Nós gostaríamos que a população valorizasse nossa luta. Sabemos que a situação está complicada, mas precisamos da conscientização de todos, pois nossa vida também está em jogo aqui. Empatia e consciência é o que pedimos agora”.