Cidade Religião

JT entrevista padre Walterlei, que fala sobre missas, Covid-19 e Campanha Solidária

O JT conversou esta semana com o Padre Walterlei Anderson de Sá, Pároco da Paróquia São Sebastião de Borborema. O padre falou sobre a nova missão com as missas não presenciais, o desafio que a população enfrenta nesse momento e sobre a Campanha Solidária. Confira a seguir, na íntegra, tudo o que conversamos:
JT: Como está a comunidade sem as missas presenciais?
Padre Walterlei: Com a pandemia do coronavírus, a humanidade precisou repensar, reestruturar, reorganizar a vida. Penso que para nossa geração, nunca houve algo que se assemelhasse a essa realidade. No início do século XX, tivemos o surto da gripe espanhola, porém nós não vivenciamos aquele momento. Por isso, para nós, isso é algo sem precedente. Tudo é novo. E o novo requer uma vida nova, em todas as suas dimensões, inclusive na vivência da fé.
Na celebração eucarística – missa – temos oportunidade de fazer memória do sacrifício pascal de Cristo. A comunidade se reúne para celebrar a páscoa. Lembro que a fé é uma adesão pessoal, mas sua vivência deve ser comunitária. Nos Evangelhos, quando narram a aparição do Ressuscitado, a comunidade está reunida. O Cristo Ressuscitado aparece quando estão reunidos em comunidade. “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou no meio deles.” (Mt. 18,20)
Num primeiro momento, a comunidade, assim como nós padres, ficamos receosos, com medo, sem compreender muito bem essa realidade. Mas, num segundo momento, passamos do medo para a esperança; da dúvida para a confiança; da tristeza para a alegria. Essa mudança se dá quando olhamos e ouvimos o Ressuscitado que nos dá a garantia de que tudo isso irá passar. É o que lemos nesse trecho do Evangelho de João: “Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e, pondo-se no meio deles, disse: ‘A paz esteja convosco.’ Depois dessas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor.” (Jo. 20,19-20)
Enfim, a comunidade está ansiosa pelo retorno, com saudades da eucaristia e do encontro com os irmãos, mas alegres por saber que, mesmo distantes, estamos unidos na mesma fé, na mesma esperança e na mesma caridade, em Cristo Jesus!

JT: Hoje se fala de missas não presenciais. Qual a diferença? Como tem sido a adaptação a essa nova forma?
Padre Walterlei: A missa não presencial foi o meio encontrado para evitar a aglomeração das pessoas na Igreja, em vista do distanciamento social. A participação maciça do povo, devido a pandemia, tem que ser evitada. Os fiéis não podem participar fisicamente. Apenas algumas pessoas das equipes celebrativas se fazem presentes para a celebração.
Diante dessa nova realidade, é preciso se readaptar. Por isso, nesse período, os meios de comunicação social são fundamentais. Em nossa paróquia, temos a Pastoral da Comunicação (PASCOM) que é responsável por dinamizar a participação virtual dos fiéis. A celebração eucarística não é feita com o povo, mas para o povo.
Tomo as palavras do Papa Francisco, para alertar ao risco que corremos: “Digo isto porque alguém me fez refletir sobre o perigo deste momento que vivemos, desta pandemia, que até nos fez comungar religiosamente através da mídia, dos meios de comunicação social, inclusive nesta Missa, somos todos comunicantes, espiritualmente unidos mas não juntos. Os presentes são poucos. Mas há um grande povo: estamos unidos, mas não estamos juntos. Também hoje tendes o Sacramento, a Eucaristia, mas as pessoas que estão unidas a nós, só têm a Comunhão espiritual. E esta não é a Igreja: é a Igreja de uma situação difícil, que o Senhor permite, mas o ideal de Igreja é estar sempre com o povo e com os sacramentos.” (homilia proferida na Casa Santa Marta, no dia 17/04/2020).

JT: Há previsão de volta das missas presenciais?
Padre Walterlei: Não. Estamos em sintonia com nossa Diocese de São Carlos, na pessoa de nosso Bispo Diocesano, Dom Paulo Cezar. Nosso bispo está seguindo as orientações da Conferência Nacional do Bispos do Brasil, que, por sua vez, está obedecendo as normas de saúde, propostas pelos organismos específicos. Enquanto não temos uma previsão, continuaremos celebrando, dignamente, pelos meios de comunicação social.

JT: Qual a situação da comunidade católica carente em Borborema com relação ao Covid19?
Padre Walterlei: A pandemia trouxe uma mudança no estilo de vida de todos! Penso que aqueles que mais sofrem são os pobres: aqueles que “trabalham durante o dia, para pagarem a janta”. A situação precária não é apenas da comunidade católica. A dificuldade está presente em toda nossa sociedade borboremense, independente de religião.
Esse novo vírus – Covid 19 – causou o fechamento do comércio, das indústrias, dos salões de bordados, cessou o turismo. Tudo isso, gera uma recessão econômica. Os estudos dizem que haverá um aumento da taxa de pobreza. Ao ouvirmos os economistas, percebemos que será um momento de muita dificuldade.
Devido a isso, nós, como cristãos, não podemos perder a fé. Por meio dela, enchemos a vida de esperança e caridade. Por mais que as notícias e a realidade sejam dolorosas, nós precisamos criar meios para amenizar a dor do próximo. Logicamente, que não conseguimos abarcar tudo, resolver todos os problemas, mas conseguimos levar uma luz para muitos que caminham nas trevas da pandemia.

JT: Quais ações a igreja está realizando no combate à doença e para amenizar o sofrimento da população?
Padre Walterlei: Para combater a doença, estamos seguindo as orientações dos organismos da saúde, seja a nível mundial, nacional, estadual e municipal. Algumas das medidas são: a celebração da missa sem a participação física dos fiéis; o cancelamento de todas as atividades eclesiais, inclusive batismos e casamentos; a conscientização da importância do isolamento social e da higienização; e, principalmente, rezar para os profissionais da saúde, para as vítimas e para os cientistas, a fim de que descubram os remédios para combater esse vírus. Essas são as principais ações que nós, como Igreja, podemos fazer.
Para amenizar o sofrimento da população, penso que a primeira coisa é levar palavra de ânimo, de coragem, de esperança. É ser luz diante das trevas causadas pela pandemia. Além disso, juntamente com a Sociedade São Vicente de Paulo – SSVP – fizemos uma campanha de arrecadação de alimentos. Temos, também, o Lar São Sebastião, coordenado pela Associação São Sebastião, que atende os idosos, dando-lhes dignidade.

JT: Como foi a Campanha Solidária? Quantas pessoas foram beneficiadas?
Padre Walterlei: No domingo de Páscoa, 12 de abril, a Paróquia São Sebastião de Borborema e os Vicentinos (SSVP) fizeram uma campanha de coleta de alimentos para as famílias carentes de nossa cidade, que devido ao momento que o mundo está vivendo, a pandemia do Covid-19, a situação de fome e desemprego está se agravando. A Coleta foi realizada além do domingo de Páscoa, na antiga rodoviária, também, durante a semana na Secretaria Paroquial.
Graças a Deus e à solidariedade do povo borboremense, a campanha solidária foi um sucesso. Sinceramente, eu pensei que não íamos arrecadar muito alimento, pois ao fazermos o apelo virtualmente, não se sabe quantas pessoas são atingidas. Mas fui surpreendido. Percebi que as pessoas receberam o pedido e aderiram ao projeto.
Foram arrecadadas cerca de 2,8 toneladas de alimentos: arroz – 1.407 kg; açúcar – 183 kg; sal – 72 kg; café – 27,5 kg; farinha – 42 kg; feijão – 205 kg; leite – 209 L; achocolatado – 21 unidades; mistura de bolo – 5 unidades; farinha de mandioca – 15 kg; macarrão – 196 kg; óleo – 251 litros; refrigerante 2 litros – 8 unidades; biscoito – 60 pcts; fubá – 42,5 kg; extrato de tomate – 222 sachês / 12 latas; miojo – 12 unidades; sardinha – 49 unidades; diversos – 130 unidades; Produtos de Limpeza: sabonete – 33un.; detergente – 19un.; água sanitária – 5l; Creme dental – 13un.; papel higiênico – 9 pcts; sabão em pó – 2 kg; palha de aço – 4pct. barras de sabão – 21pct.; Valor arrecadado em dinheiro: R$ 2.815,00.
A distribuição de alimentos e as visitas as famílias estão a cargo dos Vicentinos que fazem este trabalho de caridade em nossa cidade. Eles atendem, aproximadamente, 75 famílias. Nesse período de pandemia, a procura aumentou. Devido a isso, a quantidade de famílias assistidas, com certeza, chegará em torno de 100. As famílias são atendidas em sintonia com a Assistência Social do Município, a fim de que haja um atendimento melhor e mais abrangente.
Por fim, em nome da paróquia São Sebastião e dos Vicentinos, agradecemos todas pessoas e famílias que colaboraram e, que ainda estão colaborando com as famílias carentes de nossa cidade. Com fé e esperança em Deus, pela intercessão de São Sebastião, passaremos firmes e unidos por toda esta situação. E se você quiser doar, ainda dá tempo para fazer sua doação. Procure a Secretaria Paroquial, de segunda a sexta, das 13h30 às 16 horas, e deixe sua oferta.