Entre os tapas e os beijos do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, os três poderes que nos governam e nos exploram, o povo brasileiro ordeiro e progressista sobreviveu aos 365 e seis horas do ano 2019.
Engoliu a Reforma da Previdência. Desconfiou do pacote anticrime desfigurado pelo Congresso mas sancionado pelo presidente. A introdução da figura do juiz de garantias no embrulho do processo de combate à corrupção mexeu com os nervos do pessoal do Judiciário e do povo atento aos atos de praticantes de atentados contra a justiça e a economia.
O juiz de garantias foi a maneira sutil e disfarçada que os congressistas engenharam para retardar ainda mais os processos contra corruptos e corruptores. Dessa forma, o castigo dos crimes vai sendo adiado, a impunidade sai fortalecida, a ideia de que o crime compensa se intensifica e os poderosos se sentem incentivados à prática da malandragem com o dinheiro público. O ministro da Justiça Sérgio Moro, paladino no combate à corrupção, alertou o presidente sobre o problema criado pela figura do juiz de garantias. O presidente ignorou o aviso e promulgou a lei sem vetar o tal dispositivo. A partir daí, os suspeitos, os acusados e os candidatos a ladrão do dinheiro público têm garantida mais uma via que lhes garante distância legal e segura das grades da prisão. O que levou o presidente a não vetar o juiz de garantias, se esse artifício protege a bandidagem? Que se leiam e se ouçam as opiniões dos entendidos do assunto!
Agora o grande público começou a entender para que serviu a Reforma da Previdência vigorante a partir de 13 de novembro de 2019. Sob o argumento de que faltaria dinheiro para pagar aposentadorias e benefícios em futuro próximo, a reforma aconteceu a fórceps sob os gritos angustiados da sociedade. Para cumprir promessa de campanha, o governo pegou dinheiro das aposentadorias para pagar Bolsa Família. Apoiadores e opositores estranharam a solução. Não nos cabe reparo porque, segundo os caridosos de plantão, todos merecem uma vida digna e o dinheiro público é para amparar a tudo e a todos! Ao que parece, o nosso presidente gosta de atitudes e de declarações polêmicas para se manter na boca do povo e na mídia nacional e internacional.
Pelas amostras colhidas em 2019, não precisa ser vidente nem paranormal para prever as frases conceituais e preconceituosas que brotarão da mente pela boca do capitão Bolsonaro.
Algumas frases do inquilino do Planalto causaram furor e trouxeram prejuízos à imagem e à economia do país e, em especial, aquelas referentes à preservação ambiental e à conservação da floresta amazônica. Ao rebater as críticas sobre as queimadas e o desmatamento da Amazônia, Bolsonaro foi grosseiro e o Brasil acabou perdendo alguns bilhões de reais destinados à proteção do pulmão do mundo. Os coices sobraram para várias personalidades estrangeiras e nacionais.
À primeira ministra alemã Angela Merkel sugeriu que reflorestasse a Alemanha. A mulher do presidente francês Emmanuel Macron foi chamada de feia. O ator Leonardo DiCaprio foi acusado de financiar queimadas na Amazônia. A garota sueca Greta Thumberg, eleita uma das 10 personalidades internacionais em 2019 graças a sua defesa do meio ambiente, foi classificada de pirralha. Em 2020, nosso presidente continua na mesma toada. Quando os Estados Unidos mataram o general Qassim Suleiman, Bolsonaro em declaração desastrosa afirmou que o Brasil é contra terroristas. O Irã, o maior comprador do milho do Brasil, se sentiu ofendido e pode suspender as relações comerciais com o Brasil para desespero dos produtores nacionais.
E para terminar, em conversa com jornalistas dia 6 p.p., declarou que jornalista é uma “raça em extinção”. “Quem não lê jornal não está informado. E quem lê está desinformado. Tem que mudar isso”.
Diante de uma declaração desse naipe de um sujeito que teve mais de 58 milhões de votos só me resta acreditar nesse guru e me declarar extinto como colunista. A partir desta edição me despeço desta coluna agradecendo a atenção e o carinho de todos.
Tô certo ou tô errado?
João de Barros Crepaldi, ex-vereador, por 3 mandatos, ex-secretário da educação, ex-professor, atualmente exerce a atividade menos penosa e menos perigosa: conserta motocicletas e já está atendendo normalmente após o recesso forçado.
Colunista:
João de Barros Crepaldi
