Cidade Opnião

Matando o mensageiro

No filme 300, que tem a participação do brasileiro Rodrigo Santoro como o deus-rei Xerxes, uma das cenas mais emblemáticas do cinema acontece no início do filme. Leônidas, rei e herói espartano, recebe o mensageiro de Xerxes para firmarem um acordo simples: Leônidas deveria entregar terra e servidão ao rei persa. A presença, presunção e prepotência do mensageiro fez com que Leônidas tomasse uma atitude emblemática e eternamente lembrada: ao gritar “Isto é Esparta!”, empurrou com um chute o mensageiro para o fundo de um poço.
A ação, ainda que vista como uma revolta contra a tirania de Xerxes, é entendida com maus olhos pelos estudiosos da guerra. Desde muito antes, até mesmo da Era de Leônidas e Xerxes, matar o mensageiro era proibido e visto com maus olhos, pois o mensageiro não carrega armas e literalmente se entrega ao inimigo para tratar do acordo.
Após a Convenção de Genebra e com a garantia de direitos a prisioneiros de guerra e rendidos, o mensageiro ganhou proteção, mas perdeu a serventia: é mais fácil postar no Twitter hoje em dia. Mesmo assim, mensageiros são e devem ser tratados com respeito pela sua importância.
No Brasil de hoje, o cenário mudou. Informações vem e vão numa velocidade tremenda e ficou difícil saber o que é verdade e o que é mentira. Na incapacidade da população de escolher o que se lê – e o que deve ser lido -, começaram a tratar o mensageiro como inimigo. Nas palavras de Ciro Gomes: “demonizam o carteiro para que as pessoas não leiam a carta”.
Na última semana, o Jornal A Tribuna se despediu do colunista Mestre João de Barros Crepaldi, que seguiu a fala do presidente que considera jornalista uma raça em extinção e deixou a redação. Os mensageiros estão se tornando mais e mais raros, além de serem mais e mais inimigos do “povo de bem”.
Isso porque, como a história de Leônidas sugere e Ciro Gomes pontua, a população tem optado por matar mensageiros e carteiros para não lerem as cartas. É mais fácil demonizar um jornalista para impedir que ele fale a verdade.
Matar o carteiro tem sido a única forma de esconder informações que deveriam ser divulgadas. E em Borborema não é diferente.

Colunista:

Gabriel Hortensi Romanini